O tal do bloco Mackenzie.

Durante a noite do último dia 15 de outubro, os Correios lançaram um bloco em comemoração ao aniversário de 150 anos do Instituto Presbiteriano Mackenzie, localizado na cidade de São Paulo. O evento ocorreu no Campus Higienópolis com toda pompa e circunstância que tal efeméride mereceu.

Até aí, nada de novo no front.

O bloco teve uma tiragem de 15 mil exemplares, considerada por muitos colecionadores como pequena para esse tipo de emissão.

Ops! Um momento: você sabe o que é um "bloco"? Caso você não saiba, a seguir, uma definição básica, feita por Pereira e César (s.d., p. 37):

"[Blocos] São emissões oficiais que têm valor de franquia. Podem ser usados, portanto, para porteamento de correspondência. Entretanto, os blocos são emitidos especialmente por razões filatélicas. São formados por folhas, em geral, de pequenas dimensões, com um ou mais selos impressos, picotados ou não".

Entendeu o que é um bloco? Ainda não? Sem crise, pois a imagem a seguir representa um exemplo de bloco:

Rússia, 4/X/2002: Aniversário da Batalha de Stalingrado. Coleção do autor.

Voltando ao "bloco Mackenzie", a treta foi a seguinte: segundo informado pela Filatelia 77, poucos dias antes do lançamento da emissão, o Instituto Mackenzie comprou dos Correios 10 mil unidades do bloco, aproximadamente 67% do total da tiragem [1].

Dos 5 mil blocos restantes, os Correios retiveram 2.300 exemplares para comporem os conjuntos referentes à coleção anual de 2021. Para piorar, pelo menos, 300 blocos foram destinados à União Postal Universal - UPU, que distribuirá os blocos aos países membros.

Sobrou ao mercado a ínfima quantidade de 2.400 blocos.

Pânico e especulação.

A situação descrita anteriormente gerou uma espécie de "corrida" ao bloco, que está sendo oferecido ao mercado em conta gotas, com valores entre R$ 95,90 e R$ 120,00 a unidade. No último Domingo, 28 de novembro, em uma das VSO da ABCF, via WhatsApp, um envelope circulado com o bloco foi arrematado por R$ 500,00 😱😱😱. No mesmo grupo, foi anunciado em uma VSO, que será realizada no próximo Domingo, dia 12 de dezembro, outro envelope com o lance inicial de R$ 300,00.

Como diria o meu amigo Valdir, "normal, absolutamente normal": lei da oferta e da procura. Eu detesto essa lei, aliás, essa fórmula odiosa, contudo, há nada de ilícito nesse tipo de operação. Material escasso; pânico entre os colecionadores para completarem suas coleções; gente disposta a pagar valores absurdos, a exemplo dos envelopes citados. Os comerciantes filatélicos que tiveram acesso ao bloco irão vendê-los com preços acima dos três dígitos.

Compra quem pode e, principalmente, quem deseja. "Ah, mas os comerciantes...". "Ah, mas a ABCF...". Amigos (as), por mais que eu seja um filatelista amoroso, o colecionismo filatélico não é algo à parte da economia de mercado. Logo, os Correios e o comércio filatélico serão coerentes com essa condição. Simples assim.

Ok, eu também não gosto.

Achei ridículo o envelope chegar ao valor de R$ 500,00. Mas, essa é a minha opinião, não uma regra universal sobre como torrar uma grana com selos. Sinceramente, achei o bloco Mackenzie bem mequetrefe, cuja arte é para lá de burocrática e sem brilho. Prefiro mil vezes aquela emissão comemorativa de 2012 alusiva ao sesquicentenário da Igreja Presbiteriana no Brasil 💓.

Mas, se o caboclo está com vontade de pagar três dígitos pelo bloco, paciência.

Correios e segunda tiragem.

Lá no informativo da Filatelia 77, seu autor menciona que os Correios não poderiam ter efetuado uma venda como a que fez para o Mackenzie. Contudo, o autor não embasou essa afirmação e, sinceramente, não sei o que dizer.

Entre os filatelistas, cresce a demanda para a emissão de uma segunda tiragem de 15 mil exemplares do bloco pelos Correios. Como sou um realista inveterado, duvido que isso ocorrerá (porém, ficarei feliz em estar errado). Pois, como empresa, os Correios têm gente que sabe fazer conta e, aqui entre nós, não há mercado para isso. Gente, eles ganharam uma boa grana vendendo 10 mil unidades antecipadamente.

Receio que não irá rolar uma oportunidade como essa em caso de uma segunda tiragem.

Da minha parte, não contem comigo. Pois, é o típico bloco meia boca que não me interessa, mesmo para trocas no exterior com outros filatelistas.

O que fazer?

Francamente, acho que a emissão deveria ser boicotada pelos filatelistas brasileiros, pois não é a primeira vez que os Correios colocam no mercado emissões de difícil acesso e que sofrerão grande especulação. Lembram do "selo da Xuxa"? Ou, dos blocos da Brasiliana?

Mas, você tem todo direito de desejar o bloco na sua coleção. Então, que tal não ter pressa? Você não irá morrer se não comprá-lo imediatamente. Se tem uma coisa que aprendi ao longo dos anos que coleciono e estudo selos postais é não ter pressa. Especialmente, quando rolam euforia e, principalmente, especulação no mercado.

Como diz o filósofo, "laissez faire laissez passer, le monde va de lui même", o célebre bordão dos liberais: Deixe fazer, deixe passar, o mundo vai por si mesmo.

Pelo menos, na filatelia 😏.

Nota:

[1] - O autor foi informado que há outra versão sobre a compra dos blocos: ela foi acertada em 2020, em Brasília-DF, no contexto da assinatura do contrato que envolve o direito das imagens usadas no bloco. Além disso, os blocos comprados pela instituição não serão usados comercialmente, mas distribuídos às pessoas e organizações ligadas ao Instituto Presbiteriano Mackenzie.

Referência

PEREIRA, A. C.; CÉSAR, C. D. Manual de filatelia. [Curitiba]: s.n., s.d.

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