Quem nasce no Brasil é brasileiro ou traidor.

Entre os anos de 1937 e 1945, a sociedade e o estado brasileiros estiveram submetidos a uma ditadura denominada Estado Novo. Ela foi instituída através de um golpe liderado por Getúlio Vargas, em um contexto marcado pela proliferação de doutrinas políticas antidemocráticas tanto de esquerda quanto de direita, que viam no estado forte um indutor do desenvolvimento econômico e social (D'ARAÚJO. 2000).

O Estado Novo brasileiro possuiu diversas características, muitas das quais específicas da cultura e história brasileiras. Contudo, como em outros regimes políticos similares na América Latina e na Europa, ele foi marcado pelo nacionalismo, expresso por políticas e projetos culturais e educacionais de busca e exaltação de uma identidade nacional autêntica e autônoma (D'ARAÚJO, 2000).

A Campanha de Nacionalização.

Um dos desdobramentos do nacionalismo estadonovista foi a Campanha de Nacionalização iniciada no Sul do Brasil, em 1938. Nos estados do Paraná e de Santa Catarina, ela foi responsabilidade da 5a. Região Militar do Exército Brasileiro, sediada na cidade de Curitiba. Conforme Ilanil Coelho (2000), na prática, a Campanha consistiu em uma série de medidas coercitivas de abrasileiramento das populações de origem estrangeira nos dois estados, a exemplo da nacionalização do ensino escolar.

Censura postal e propaganda nacionalista.

Os cidadãos de origem estrangeira foram o público-alvo da Campanha de Nacionalização. Em especial, nos municípios ligados à colonização alemã, a exemplo de Santa Catarina. Além das medidas de nacionalização da cultura e da educação escolar, uma intensa propaganda patriótica foi direcionada às comunidades teuto-brasileiras através da imprensa e das comunicações postais.

As marcas postais a seguir são algumas das evidências dessa história.

Frente do envelope. Coleção do autor.

Envelope circulado entre Porto Alegre (RS, 26/VI/1939) e Blumenau (SC, 07/VII/1939). Carta simples com carimbo circular roxo de censor "☆13", porém sem indicação de abertura e verificação do conteúdo da correspondência. De acordo com a catalogação de Jürgen Meiffert (2021), trata-se de um carimbo de censor (prüferstempel) empregado em Santa Catarina, aproximadamente, entre 30 de dezembro de 1938 e 28 de julho de 1939, nas cores preta e violeta, sendo conhecidos os números 1, 11, 13 e 15. Carimbo de propaganda nacionalista "QUEM NASCE NO BRASIL É BRASILEIRO OU TRAIDOR. GENERAL LAURO MÜLLER".

Frente do envelope. Coleção do autor.

Envelope circulado entre Porto Alegre (RS, 14/VII/1939) e Brusque (SC, 2?/VII/1939). Carta simples com carimbo de propaganda nacionalista "QUEM NASCE NO BRASIL É BRASILEIRO OU TRAIDOR. GENERAL LAURO MÜLLER".

Propaganda nacionalista.

Segundo informa Nino Aldo Códa (1941, p. 172):

"Dando expansão a campanha nacionalista, os Correios e Telégrafos de Santa Catarina e de Mato Grosso apostaram a correspondência um carimbo reproduzindo uma frase patriótica do General Lauro Müller, segundo Santa Catarina, "QUEM NASCE NO BRASIL É BRASILEIRO OU TRAIDOR" e segundo Mato Grosso, "QUEM NASCEU NO BRASIL É BRASILEIRO OU TRAHIDOR".

Variação da marca postal aplicada no Mato Grosso. Códa (1941).

Existe uma terceira variação, publicada no livro de Azevedo (2001), que será abordado em uma publicação futura neste blog.

Referências.

CÓDA, Nino Aldo. Contribuição ao estudo dos carimbos. Rio de Janeiro: FILATIP, 1941.
COELHO, Ilani. É proibido ser alemão: é hora de abrasileirar-se. In.: GUEDES, Sandra P. L. de Camargo (org.). História de (i) migrantes: o cotidiano de uma cidade. Joinville: UNIVILLE, 2000.
D'ARAÚJO, Maria Celina. O Estado Novo. Rio de Janeiro: Zahar, 2000 (Descobrindo o Brasil).
DUFF, Luiz Antonio Duff. Selos, viagens e envelopes: selos comemorativos do Brasil de 1900 a 1942. São Paulo: FINASA, 2001.
MEIFFERT, Jürgen. Zensurpost in Brasilien: katalog der zensur-und prüferstempel, verschlusszettel und zensur-beanstandungszettel 1917-1972. Lohmar: ARGE Brasilien, 2012.

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