O que define a condição de filatelista?

Há muito tempo, costumo ler e ouvir que nem todas as pessoas que reúnem ou colecionam selos postais são filatelistas. Seria mais ou menos o seguinte: existem os "ajuntadores", os colecionadores e os filatelistas. Confesso que esse tipo de hierarquização me incomoda à beça.

Sim, existem iniciantes e colecionadores avançados. Entretanto, não há na filatelia uma espécie de investidura do título de filatelista ou um rito de passagem que, "a partir de agora, fulano de tal é um filatelista".

- Eu o consagro Sir filatelista beltrano 😂.

Para ser sincero, eu não considero "filatelista" uma categoria dos sujeitos que se envolvem com a Filatelia. Ah, mas a pessoa é "ajuntadora" ou iniciante. Ora, todos nós somos, em algum aspecto ajuntadores ou iniciantes.

Então, o que  define a condição de filatelista?

Na minha óptica, um caminho para uma possível resposta é a identificação que o colecionador estabelece com a filatelia. Ele se reconhece nesse universo para o qual o selo postal é a porta de entrada.

No entanto, não há uma lista de verificações que, uma vez conferida, agora sim, eu sou um filatelista 👌.

Eu posso falar pela minha experiência, sobre a forma com a qual ingressei nesse tipo de colecionismo. Algo muito particular e que não serve de regra geral.

A socialização com outros filatelistas foi essencial na minha trajetória como colecionador. Inicialmente, ela ocorreu durante a minha adolescência, frequentando as reuniões da Associação Filatélica de Joinville - AFJ e os encontros estaduais realizados anualmente em algumas cidades catarinenses.

A troca de correspondências com colecionadores do Brasil e de países estrangeiros também foi importante por diversas razões, como por exemplo: a) foi um meio para obtenção de material para as minhas coleções assim como para trocas; b) reforçou os meus aprendizados sobre o que é um selo postal adequado para fazer parte de uma coleção bem como para enviar para troca, especialmente, quando o correspondente era alemão 😅; c) estimulou o meu interesse em aprender rudimentos de outros idiomas.

Atualmente, esse processo de socialização ocorre através de espaços virtuais, tais como os grupos de WhatsApp ou do Facebook. Em um contexto marcado pelo distanciamento social causado pela pandemia de COVID-19, cada vez mais a virtualização das atividades filatélicas, a exemplo do comércio e das exposições, ganha força.

Além da socialização, minha identificação com a filatelia também foi estabelecida através do estudo. Pois colecionar selos postais é um convite ao estudo. Você começa com um encantamento com algo que agrada os seus olhos. Pode ser um carimbo bem batido ou aquele envelope circulado. Aí, você pergunta algo para um ou para outro; consulta um catálogo; lê uma matéria de periódico. Quando se dá conta de si, reuniu uma pequena biblioteca sobre o assunto e está a escrever e/ou expor sobre suas descobertas.

Contudo, esse percurso varia de colecionador para colecionador. Cada filatelista estabelece seus ritos e seus ritmos.

E, talvez, o mais importante: a condição de filatelista é algo contínuo, não tem prazo de validade. Ela é renovada a cada tempo em que passamos em nosso "cantinho filatélico" e, lá, perdemos a noção do tempo. Ou, durante um passeio, quando nos deparamos com uma feirinha e, na banca de selos, sentimos a alegria inexplicável da descoberta inesperada.

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