Berlim, 1936: as Olimpíadas de Hitler.

Os Jogos Olímpicos de Verão de 1936, em Berlim, foram desconcertantes. Conforme a historiografia sobre o Esporte, os Jogos da XI Olimpíada foram o evento esportivo de abrangência mundial jamais visto, planejado de forma cirúrgica em seus mínimos detalhes (ABRIL CULTURAL, 1968).

Por outro lado, a mesma historiografia ressalta sua inseparável dimensão de propaganda do regime nacional-socialista implantado na Alemanha entre os anos de 1933 e 1934 (ABRIL CULTURAL, 1968; HOLMES, 1974).

Seria possível separar essas duas dimensões das Olimpíadas de 1936? Isto é, reconhecermos somente a proeza organizacional do evento sem incorrermos em uma apologia do Nacional-Socialismo?

Foge ao escopo desta publicação uma resposta exaustiva às perguntas acima. Contudo, seguindo a trilha aberta por Susan Sontag (1986), em sua resenha acerca da obra de Leni Riefenstahl (1902 - 2003), na qual a autora alerta para uma amálgama indissociável entre estética e política existente na produção da cineasta e fotógrafa alemã Leni Riefenstahl, esta publicação parte da premissa de que as emissões dos correios alemães alusivas aos Jogos de 1936 estavam tão carregadas de ideologia quanto qualquer outro aspecto material ou imaterial oficial do certame.

Portanto, para além de itens colecionáveis, os bilhetes, as marcas, os selos postais e afins emitidos pelos correios da Alemanha alusivos aos Jogos da XI Olimpíada são itens históricos que expressam o contexto em que foram concebidos e colocados em circulação. Ou seja, são frutos de um regime político que instrumentalizou um evento esportivo como um meio de veiculação dos seus valores e da sua propaganda.

A reunião e o estudo desse tipo de material pela Filatelia, sugere o autor desta publicação, deve levar em conta essas circunstâncias, sob o risco de cair na armadilha da "neutralidade" da técnica e, sem querer, fazer apologia ao regime nacional-socialista e sua ideologia.

As marcas postais dos Jogos de 1936: Berlin Olympisches Dorf.

Foram produzidos e usados durante a vigência dos Jogos da XI Olimpíada de Verão diversos carimbos comemorativos que foram aplicados sobre correspondências despachadas de locais vinculados à competição, a exemplo da Vila Olímpica, onde funcionou uma agência postal (HOMES, 1974).

A primeira vez em que uma Vila Olímpica foi construída foi para os Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 1932. De acordo com Judith Holmes (1974), para 1936, os alemães construíram uma cidade modelo para receber as delegações dos países participantes, entre os quais o Brasil.

Ainda em Homes (1974), predominava na Vila Olímpica um ambiente bucólico, reforçado pela existência de um bosque, com comedouros, quedas d'água e viveiros. O Lóide Alemão do Atlântico Norte foi responsável pela alimentação das equipes hospedadas.

De Berlim para Olovo.

Coleção do autor.

Envelope circulado entre as cidade de Berlim (Alemanha, 14/VIII/1936) e Olovo (Bósnia e Herzegovina, 17/VIII/1936). Carta registrada despachada da agência postal da Vila Olímpica cujo valor facial total - 55 centavos - corresponde aos seguintes valores vigente à época: porte do registro - 30 centavos; porte para cartas com até 20 gramas de peso destinadas ao exterior - 25 centavos.

Referências.

ABRIL COLEÇÕES. As Olimpíadas de Berlim, 1936. São Paulo: Editora Abril, 1968 (História do Século 20; v. 4).
HOMES, Judith. Olimpíada - 1936: glória do Reich de Hitler. Rio de Janeiro: Renes, 1974 (História Ilustrada da 2. Guerra Mundial: Conflito Humano; v. 3).
SONTAG, Susan. Sob o signo de Saturno. Porto Alegre: L&PM Editores, 1986.

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